Internet e Rua - Ciberativismo e mobilização nas redes sociais

June 03, 2018

 

Internet e Rua - Ciberativismo e mobilização nas redes sociais é um livro escrito por Fábio Malini e Henrique Antoun e publicado em 2013. A obra trata de ciberespaço, cibercultura e, especialmente no trecho abordado neste fichamento (pgs.152-165), ciberativismo. Liberdade, Economia, disputa de narrativas, discursos, mediação... o que isso tem a ver com Cibercultura?


1. Ciberativistas nas Redes e Ruas - Monitoramento dos dados, vazamento da informação e anonimato do público

Na década de 1990, o uso da Internet, associado às dinâmicas de produção e consumo de portais, transformou a rede num enorme laboratório da publicidade. E, de certa forma, a dinâmica de fragmentação, legitimada pelas infi nidades de redes de pequenos mundos centralizados, empurrava a web para uma experiência majoritariamente baseada no download de sites (p.152)
A Internet de hoje se transmutou, sem dúvida. A atuação social, a mobilização e o engajamento viraram um valor da rede, contrapondo aquele pensamento de felicidade eterna da web comercial, que contaminava a economia e a política. Em grande medida, essa metamorfose tem a ver com a emergência das dinâmicas ativistas, já no fi nal dos 90, que fi zeram resgatar o sentido originário peer-to-peer da Internet, dando a ela um novo uso (p.152)

Os autores citam embates como TV x Youtube e blogs x jornais para esclarecer que:

O que está se discutindo é o poder das mídias irradiadas de massa em relação às mídias distribuídas de multidão. Hoje cada vez mais se explora e se esgarça o confronto entre os veículos da informação massiva e as interfaces da comunicação coletiva (p.153)
Até bem pouco tempo atrás se podia ouvir os formadores de opinião falar com desdém nas entrevistas que nos blogs só se escrevia para si mesmo. Hoje, depois do estremecimento provocado na mídia corporativa pelo crescimento da prolífica produção blogueira, o pouco caso de tal comentário só poderia despertar gargalhadas por sua infelicidade e cegueira (p.153)
O fato é que a mídia irradiada vem sofrendo sucessivos e inesperados revezes em áreas onde, antes, o seu domínio tinha por limite o orçamento monetário de quem a contratava. Cada vez mais ela vê seu lugar de mediadora social da opinião pública ser denunciado e rejeitado como coercitivo por partes signifi cativas das grandes massas, que antes se deixavam de bom grado representar (p.153) 
Daí que, por ora, há todo um conjunto novo de disputas e conflitos sobre a produção e a regulação da liberdade na Internet, na medida em que todo o valor capitalista está radicado em fazer os conectados livres permanecer dentro de limites programáveis e de conexões preestabelecidas, para recolher destes toda a sua produção social. É o paradigma de produção colaborativa do “tudo é meu” (p.153)
Na contramão deste movimento, há todo um outro que visa inflar de liberdade a rede, a partir da disseminação de dispositivos que aceleram a socialização e o compartilhamento de conhecimentos, informação e dados, seguindo novos modelos de direito público, abrindo um conflito com a governança capitalista da liberdade na rede (p.154)

No final dos anos 90 e começo dos 2000...

O consumidor tornara-se um usuário cada vez mais exigente, capaz de interagir e se comunicar através da Internet usando os mais diferentes tipos de dispositivos de comunicação. A mediação da publicidade ou dos grandes mídia estava sendo trocada pelas interações e recomendações obtidas através das redes sociais [...] A mediação tinha fugido da mão dos grandes mediadores (p.154)
Uma liberdade de leitura e interpretação não é o mesmo que uma liberdade de construção e emissão. Mesmo o leitor mais ativo é ainda passivo na perspectiva da luta para produzir a informação capaz de transformá-lo em um sujeito com atividade e autonomia (p.156)
O uso da informação para confundir, decepcionar, desorientar, desestabilizar e desbaratar uma população ou um exército adversário marca a transformação radical da informação usada como arma de guerra [...] Em termos gerais toda operação conduzida para explorar informações para obter uma vantagem sobre um oponente e para negar ao oponente informações que poderiam lhe trazer uma vantagem faz parte da guerra de informações (p.156)
Não se vive mais em sociedades de cultura unificada ou hegemônica cuja reprodução social se faz através de processos culturais homogêneos, como supõe uma bolorenta hipótese antropológica. Vive-se na fábrica social onde as populações lançam mão dos mais diferentes processos culturais em conflito. Enquanto os diversos processos culturais procuram reproduzir os meios e modos de vida capazes de ampará-los, as populações misturam diferentes partes destes diversos processos misturando-as e recombinando-as em busca de sua autonomia (p.156-157)
A Internet teria emponderado uma demanda de participação, produção e honestidade incompatíveis com as comunicações invasivas e unilaterais (p.157)
As novas narrativas multitudinárias vão fazer a passagem do modelo informacional das mídias, que privilegia a acumulação quantitativa proprietária de produtos, para o modelo comunicacional das multimídias, que privilegia a coordenação da ação coletiva nos movimentos (p.157)

2. Monitoramento e disputa pela primazia das narrativas
O choque de poderes entre as mídias de massa e as interfaces de usuários é um fato inegável. A mídia irradiada cada vez mais ressalta seu poder de atingir uma quantidade imensa de público em uma só tacada (p.158)
A produção de subjetividade da mídia massiva esbarra em seu produto mais notório: os fans – esses pequenos fanáticos com momentâneas opiniões compactas disseminados em profusão pelo poder da irradiação (Jenkins, 2006). Ela produz seus efeitos em prazo curto, gerando estes pequenos fanatismos em torno de suas causas (p.158)
Embora a mídia irradiada de massa seja uma valiosa máquina de construção e destruição instantânea de reputação social, as mídias distribuídas de grupo têm se revelado uma poderosa máquina de criação e sustentação de reputação duradoura, funcionando em longo prazo (p.158)
Enquanto a mídia massiva extrai seu poder da sensação de “todo mundo está falando isso” subentendido em seu uníssono, as interfaces de usuários encontram o seu poder na sensação de “meu amigo recomendou” ancorado na suposta confi abilidade da fonte da informação (p.158)
Os autores, então, passam a identificar dois tipos de "disputas" na web, uma disputa de narrativas entre as mídias cooporativa e "alternativa".
O uso intensivo dos grandes meios massivos, pertencentes às corporações, para gerar a impressão de realidade sobre algum tipo de acontecimento foi chamado de guerra da informação (infowar). Através desta guerra, a informação é usada para produzir efeitos de percepção ou efeitos afetivos sobre alguma população ou grupo social, visando tanto promover ou inibir sua própria ação enquanto grupo, quanto inibir ou promover algum tipo de ação social sobre esta população (p.158-159)
O uso intensivo das interfaces de comunicação da Internet para estabelecer uma verdade narrativa sobre algum acontecimento e disseminar narrativas sem lugar na mídia corporativa foi chamado de guerra em rede (netwar). Através desta guerra, movimentos sociais ou pequenos grupos podem disputar a primazia da narrativa verdadeira com Estados, instituições e corporações (p.159)
A narrativa vitoriosa será aquela que obtiver a confiança da opinião pública  (p.159)

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